Publicado en Revista Numismática
Brasileira, Vol.XXVI, nº2
https://www.academia.edu/92433982/Spintriae_as_fichas_er%C3%B3ticas_da_Roma_Antiga
Resumo: Como afirma Oswaldo Rodrigues, muitas formas diferentes vinculam dinheiro e sexo, sendo as fichas conhecidas como spintriae usadas na Roma Antiga um exemplo claro dessa relação. As tesseras, utilizadas na época republicana para fins militares e na época imperial para setores muito diversos, tinham, como assinala David Martínez, uma clara função de propaganda, ainda maior do que a da própria moeda. Desde o século XIX, existem teorias sobre o seu uso, desde fichas de jogo ou fichas de entrada para os banhos até os mais defendidos, sua emissão expressamente para uso em bordéis. Sua iconografia, muito realista, é muito variada, o que dificulta a sistematização, e incluem cenas comuns a outras representações que se encontram em inúmeros objetos contemporâneos como afrescos, frascos de unguentos, objetos do cotidiano como xícaras ou lanternas, ou mesmo em sarcófagos, dentro do extenso mundo do erotismo romano.
Palavras-chave: Spintriae, arte erótica, tesseras, Império Romano,
Arqueologia.
Abstract: As Oswaldo Rodrigues states, many different ways unite money and sex, being the tokens known as spintriae used in ancient Rome a clear example of this relationship. The tesserae, used in the republican era for military purposes and in the imperial for very diverse sectors, had as David Martinez collects a clear propaganda function, even greater than that of the currency itself. Since the nineteenth century there have been theories about its use, from game chips or entrance to the hot springs to the most defended its issuance expressly for use in brothels. Its iconography, very realistic, is very varied, which makes it difficult to systematize, and collects scenes common to other representations that are found in countless contemporary objects such as frescoes, jars of ointments, useful of everyday life such as cups or skylights or even in sarcophagi, within the vast world of Roman erotica.
Keywords: Spintriae, erotic art, teasers, Roman Empire.
Independentemente do uso que se possa dar, com várias teorias que analisaremos mais adiante, é importante fazer uma introdução sobre a importância da sexualidade em Roma, como estudou Juan Francisco Bermúdez. Na sociedade romana, segundo este autor, era proibida qualquer prática sexual em que os instrumentos passivos do ato, fossem escravos, escravas ou mulheres livres, se tornassem elementos sexualmente ativos, tanto heterossexuais quanto homossexuais.
Segundo esse autor, embora houvesse certo tipo de liberdade sexual, ela só poderia ser exercida por homens livres e, embora certas práticas sexuais fossem permitidas e outras proibidas, ambas eram praticadas regularmente por pessoas diferentes de qualquer categoria social, principalmente na prática da prostituição. As posições e práticas, tanto heterossexuais como homossexuais, exercidas pelas prostitutas e seus clientes romanos estão representadas em inúmeros tipos de suportes, como candelabros ou lamparinas, em diferentes tipos de louças, em afrescos, pinturas e mosaicos, em grafites e inscrições nas paredes, nas próprias spintriae e nos escritos de autores gregos e latinos.
Existe uma grande variedade destas fichas e dos motivos eróticos que nelas estão representados, a grande maioria dos quais ostenta no verso um numeral circundado por uma orla pontilhada, laureadas ou ambas, variando de I a XVI, portanto equivalente à moeda de bronze romana, o asse, 16 delas fizeram um denário, a moeda de prata. Para David Martínez, os artistas que deviam fazer as spintriae devem ter sido os trabalhadores da Casa da Moeda de Roma, encarregados de fazer os cunhos das moedas, baseando esta afirmação nos paralelos iconográficos que mostram com outros tipos de emissões.
Em relação à sua composição metalográfica, o metal mais utilizado é o oricalco, uma liga de cobre, zinco e chumbo com alguns traços de ouro, prata ou estanho, sendo o principal metal da liga o cobre. Este metal era de jurisdição praticamente imperial, devido à sua valiosa composição, como atesta o fato de ser a liga usada para a cunhagem dos famosos dupôndios durante o Alto Império. Juntamente com sua arte requintada, que denota o trabalho de gravadores profissionais, isso parece sustentar que eles foram oficialmente cunhados na própria Casa da Moeda de Roma.
O primeiro autor que se referiu a essas fichas como spintriae em um tratado de Numismática foi o filólogo, diplomata e numismata Ezechiel Spanheim, baseado em uma citação de Tácito e Suetônio, e embora tenha feito referência aos jogos depravados do imperador Tibério, em sua opinião, essas tesseras foram usadas como ingressos de teatro. Para os autores numismáticos do século XIX, seu destino não poderia ser outro senão estar inequivocamente relacionado ao sexo, exceto no caso de Mowat, que defendia sua produção para o uso recreativo da plebe romana.
Já no século 20, Rostovtzeff relacionou diretamente esses tokens ao seu uso exclusivo como meio de pagamento nos bordéis romanos, ainda hoje a interpretação favorita dos colecionadores europeus. A prostituição era um negócio poderoso na Roma imperial, registrando até 32.000 prostitutas oficiais em menos de meio século na cidade de Roma, sem contar aquelas que praticavam seu ofício sem registro oficial.
Igualmente importante era a relação das tesseras com as milícias, as legiões romanas, razão pela qual também se argumentou que a sua utilização poderia estar relacionada com prémios ou pagamentos especiais a soldados, uma espécie de medalha que poderia ser utilizada para o efeito, guardada como lembrança ou mesmo pendurado, já que são preservadas cópias com furo. Isso foi parcialmente verificado, por dois spintriae com os numerais de duas Legiões que realmente participaram da conquista da Britânia.
Uma explicação que pode ser plausível é a dada por Bateson, que defende como hipótese que os numerais que aparecem em uma de suas faces fariam deles algum tipo de jogo semelhante aos nossos atuais jogos de cartas. Outras interpretações relacionam-nas a ingressos para espetáculos e locais públicos, como termas, a brindes ou mesmo à prática de algum tipo de jogo erótico.
Acredita-se que foram cunhadas exclusivamente na Roma de Tibério, imperador famoso por seu apetite carnal exorbitante, e, portanto, tinham uma circulação muito limitada na época. Esta é uma das razões pelas quais é duvidoso que seu destino fosse ser usado como moeda de pagamento em bordéis. Outra circunstância que parece negá-lo é que, sendo meio de pagamento para este tipo de estabelecimento, as sínteses não foram encontradas nos prostíbulos dos sítios arqueológicos de Pompeia e Herculano, mas nas casas dos indivíduos e misturadas com outros objetos da vida cotidiana, e também em outros achados arqueológicos.
Estas fichas, um magnífico espelho da sociedade romana que as emitiu, são muito procuradas no mercado numismático, onde se pagam preços exorbitantes. Como em qualquer moeda ou ficha que se sabe ser desejado, deve-se ter muito cuidado para evitar ser enganado com uma falsificação. E, igualmente, deve-se levar em conta que durante o Renascimento foram feitas cópias das coleções que foram encontradas.
Referências bibliográficas:
Bermúdez Calle, Juan Francisco, “Sexo,
prostitución y las fichas eróticas de la Antigua Roma. Dentro del lupanar”, Epigrafía y Numismática, 30 de diciembre
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Martínez Chico, David, “Sexo y erotismo en
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Martínez Chico,
David, “Tesserae frumentariae, nummariae et ‘Spintriae’ Hispaniae. Hallazgos y nuevas
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Rodrigues Jr., Oswaldo M., “Sexo, amor e dinheiro”, Revista Brasileira de Sexualidade Humana, Setembro 2020, pp.. 485-500.